Muitas pessoas

De repente, Substack.

Nas últimas semanas passei a receber muitas notificações de inscrições no meu perfil no Substack. Um buzuzu. Também são várias as pessoas que conheço que passaram a produzir deste lado de cá das redes sociais. Entusiastas da escrita, gente cansada dos outros espaços. Tem também quem apenas acompanhe outros perfis, e que decidiu migrar para cá. Muita gente veio como fiscal de treta, em função dos últimos episódios do universo literário paulistano.

De minha parte, criei meu perfil por aqui há alguns anos para seguir e apoiar newsletters que eu já conhecia de outras paragens e que migraram para cá. O boom vem de agora, mas tem muita gente que chegou e escreve desde quando tudo aqui era mato.

E então, como em todo espaço grande de internet, vem o boom. Um monte de gente chega pra produzir. Um monte de gente chega só pra seguir. Nesse forte movimento migratório, fico pensando quanto tempo levará para que este espaço aqui se assemelhe fortemente aos outros tantos espaços digitais que conhecemos.

Primeiro, porque não temos tempo para acompanhar tudo. Surge, então, o desespero pela atenção da audiência. Ninguém escreve aqui pra não ser lido. Segundo, porque, quem lê, não consegue apoiar tudo. E conhecimento não se faz assim, de graça. Quem já tem alguma influência de outros espaços ou que a consolidou por aqui em outros tempos pode ser que já tenha seu grupo de apoiadores, seguidores fiéis, que curtem o trampo e acompanham regularmente.

Além disso, assim como os outros espaços digitais, esse aqui também demanda, de alguma maneira, constância, recorrência. E é aí que o bicho pega. Despertar interesse, gerar atenção. Pra sugar o interesse do outro, em meio a tanto ruído, vamos sendo orientados a “estar presentes”. E, sabemos, não há mente que tenha criatividade para escrever escrever escrever na demanda que muitas vezes nos é requerida nos espaços digitais. O tal do ver e ser visto, no mundo da internet, é avassalador.

Se você começa a perceber que precisa estar mais presente, você precisa dedicar mais e mais tempo para aquele espaço. E para estar mais presente, você precisa abdicar de outras coisas, encontrar espaço na agenda. De onde se tira o dinheiro pra isso? Porque ninguém vive de vento. Mas cada vez menos as pessoas querem pagar para receber informação. É muita Netflix pra pouco bolso. Então, a princípio, é sempre aquela festa, um segue daqui, outro segue acolá. Mas é atenção pra dividir com muita gente. E like e apoio também.

Eu sei, pareço pessimista. Talvez porque eu esteja na internet já há muitos anos - meu canal no youtube completa 10 anos agora em 2025. Talvez porque, ao estar tanto tempo na internet, eu já tenha visto outros movimentos migratórios. Pode parecer a bonança pra todo mundo, mas, hm, nunca é.

É por isso que eu, aqui no Substack, sou apenas visita. Porque não quero me comprometer a produzir regularmente para “engajar”, e depois me ver frustrada porque não consegui dedicar tempo a mais um trabalho de graça. Também não quero transformar a escrita aqui num negócio, e depois - de novo - me ver frustrada porque, sei lá, talvez eu não seja assim tão boa de vendas. Ou talvez meu produto não seja tão bom.

Porque, se tem uma lição aprendida nesses meus tantos anos de redes sociais, é que não existe milagre. Não é só o seu charme ou a sua inteligência que fazem com que você alavanque financeiramente seu projeto. E no final, todo mundo tem que pagar contas. Luz e internet talvez não se paguem com as tantas palavras despejadas por aqui. E para que essa não seja a medida da minha entrada em mais uma rede, eu estou aqui só mesmo a passeio. Sem pressa, sem pressão, sem compromisso. Minha escrita você vai encontrar de maneira consistente nos meus livros. O primeiro deles, publicado pela Planeta, foi lançado ano passado; o segundo sai esse ano, se tudo correr bem.

Te deixo então essas palavras perdidas no meio de tanta conversa proposta. No meio de tanto. Que a palavra escrita te acompanhe nos seus dias, aqui e lá, sempre.

Beijos, Jana